Tuesday, October 11, 2005

sem título - Ana Portocarrero

Passaram 3 horas... Ou seriam 10 minutos? O tempo perdia-se, passava por mim lentamente, minuto a minuto, segundo a segundo... Tic, Tac, Tic, Tac... O escuro não me assustava; divertia-me, até. Entrava um só rasgo de luz por uma frincha pequenina, a minha passagem para o Mundo, que magicava contornos e formas à minha volta. Experimentei os dedos destreinados contra a parede e, num segundo (ou seriam 2 minutos?), fizeram-se as sombras. Vi os cãezinhos, os patinhos, aves de largas asas que, ao contrário de mim, saíam dali, voavam, desapareciam com um simples desfazer de mãos. Fartei-me...
Fechei os olhos com toda a minha força e puxei as cordas da guitarra inexistente, como tantas vezes fazia sozinha no meu quarto. Eu compunha as canções de embalar... Ouvia, da minha cama, os risos e conversas dos meus pais e amigos na sala de jantar e a cada gargalhada atribuía um tom, a cada tilintar de copos um ritmo e a música surgia por si. Mas aqui o som saía abafado, o silêncio era mais forte... Parti duas cordas...
Lembrei-me de um filme que tinha visto em que uma rapariga, exactamente da minha idade, se encontrava na mesma situação que eu. Claro que isto da ficção tem as suas vantagens e, nos recônditos da sua mochila, a rapariga tinha uma bola de cristal. Brincou com as mãos, tal como eu fazia com as minhas sombras chinesas, arregalou os olhos negros, abriu um sorriso e abriu-se uma porta. Mas eu não conseguia ver o meu futuro na parede, esperava pela sorte... Procurei na minha mochila mas só encontrei um bloco de notas. Estava escuro...
Tinham passado 3 horas (ou seriam 10 minutos?) quando um "clic" meio tímido fez da sorte o meu destino. A luz acendeu e a porta abriu. Saí no 5º andar e olhei para trás. A porta fechou-se em 2 segundos e o elevador seguiu viagem.

0 Comments:

Post a Comment

<< Home