Friday, October 14, 2005

sem título - Helena Grego Ferreira

Pessoa, o poeta que andava sobre as águas,
saltitou em noite de insónia
pelo borrão de tinta que unia duas folhas de papel,
untou a pena em megalómanas engrenagense
fez-se álvaro de campos para ali desenhar segredo meu.
Assim me matou ontem o hoje da palavra
ao falar em verso do futuro, poema meu.
Poema meu seria dizer o que ele disse,
que «o presente é todo o passado e todo o futuro»,
que o futuro é hoje porque é hoje que o pensamos,
que o futuro é ontem porque já pensámos nele.
Ontem, sim, ontem,
porque o bacalhau ficou de molho desde ontem
para o comermos hoje e amanhã falarmos nele.
E que vom que é o vacalhau vracarense!
Poema meu é amar o futuro!
Poema meu é dizer que o futuro é meu!
Futuro belo, futuro trágico, futuro híbrido
do futuro que faço e do que Deus me deu.
Poema meu é dizer que o futuro é tudo,
que o futuro é fado e destino igualmente,
destino de todos os tempos existentes.
Quando o futuro é felicidade alcançada
ele é também o sonho lindo do presente.
Poema meu dizer que o futuro move o humano
pois ele é o bem e o mal que nós temos pela frente.
Futuro... Ai, futuro...
Quem não ama o futuro está doente.

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