Saturday, October 15, 2005

sem título - Filipe Castro

entre muitas, uma lenta película de pó voa sobre o quarto.
o canivete vermelho escrevinha linhas de vida no tecto e nas paredes.
o candeeiro branco de papel solta ideias e memórias.

O tempo veio passear-me pela mão.
vejo o reflexo do outro Inverno na persiana,
sinto o ontem no chão, sob a cama, os tapetes e os móveis.
(- escritor maldito, pára de escrevinhar no tecto, que ainda cais!)

as madeiras estalam as memórias dos mortos,
revelam os que moraram nesta casa,
exortam e os que habitam em mim.
(- vou rabiscar-te neste quarto!).

O berbequim do vizinho de cima traz as estradas de ontem.
Vim de sul para o norte, do passado para o futuro-presente,
Entre pontes e viadutos, traços contínuos e sinalizações.
(- sai daí!)

a película de pó ficou presa no vidro.
o amanhã está para além da janela.
o vento, as árvores, os vales e o céu são futuro.
(- já tenho muitas fatias de ti!)

(a lâmpada do candeeiro de papel branco fundiu-se)
não tenho futuro,
é ele que me tem a mim,
amigo que é do tempo que me passeia pela mão.

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